quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

CARTAS DO NEPAL II - NA CORDILHEIRA DO HIMALAIA

Estou bem, já compreendendo melhor as coisas e engajando-me, aos poucos, na realidade local e no meu trabalho.

Estou assessorando o governo local a implementar uma política de gênero, mais precisamente de valorização da mulher perante a sociedade.

Este processo passa, claro, por todas as fases da vida da mulher, ou seja do sexo feminino, desde seu nascimento até a velhice.

Historicamente, assassinatos de bebês do sexo feminino, ou apenas “descarte”, são coisas comuns entre os povos orientais.

A mulher sempre foi tida apenas como “depósito de esperma”, um ser inútil para qualquer outra atividade, que nao sexo, procriação e trabalhos pesados na agricultura e na casa.

E, sejamos justos, não só aqui entre os povos orientais.

Nos países “civilizados” também foi sempre assim, embora as mudanças ja estejam se consolidando há tempos.

A Igreja Católica contribuiu, também ha registros históricos, de forma acentuada com esta discriminação, proibindo (até hoje), o exercício do sacerdócio, a livre manifestação da mulher, etc.

O trabalho, meu e da minha equipe, é conscientizar as autoridades locais sobre a necessidade de respeitar a mulher como SER HUMANO, com direitos iguais aos dos homens.

Mais especificamente, estamos aqui para implementar um programa de 5 anos que visa a erradicação dos costumes locais de “vender” as filhas, logo na primeira menstruação, como escravas sexuais para as pessoas mais abastadas.

Entenda-se que “mais abastada” pode ser apenas ter o que comer, já que a maioria não tem.

Estamos resididndo em um acampamento montado ao lado de uma “cidade” nortenha chamada Jumla, no Himalaia, quase na fronteira com a China, onde o problema é maior.

Aqui, deveremos lançar a idéia, deverei treinar as assistentes sociais dinamarquesas que estão comigo e elas continuarão o trabalho. A idéia é que o trabalho seja realmenhte conduzido por mulheres, o que parece ser uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo que afirma a igualdade de gênero, também pode criar rejeições intransponiveis --- vamos esperar para avaliar a situação.

No nosso acampamento, são 22 tendas, tipo “barracas de camping”, todas bem equipadas, com o necessário e possível.

1 é “barraca da comida”, ja apelidada de “chicken house”, porque galinha é nosso prato princiapal por razões óbvias ---- não ha como aramazenar comida, embora a temperatura média aqui esteja em torno dos 8 graus.


Êta friozinho de lascar.


Cada um de nós tem sua propria barraca e temos um painel solar que nos fornece energia --- apenas para iluminação, já que a amperagem da placa solar não permite ligar geladeiras, televisão, etc. Computador, nem pensar.

Temos uma localidade, a cerca de 60km daqui que tem energia eletrica, fraquinha, vinda de uma usina hidroeleterica na India, onde carregamos a bateria do computador, as baterias das câmeras, etc.

Ah, cerveja existe, mas escondida e contrabandeada da India. Aqui, o povo e as autoridades punem severamente o consumo de bebidas alcoolicas.

A prostituição infantil, é aceita e incentivada --- afinal, uma mulher é apenas uma mulher.... rsrsrsrrs Mas, cerveja, não pode.

Também o uso do fumo e da sua versão alucinógena, o ópio, é generalizado.
Como ja havia notado na Africa, os escandinavos fumam adoidadamente, um cigarro atras do outro. As vezes, me incomodam muito, mas ja estou acostumado.


Minha relação com a equipe é muito boa.

São 3 dinamarquesas que vão ser treinadas por mim e deverão continuar o trabalho na minha saída: Anne, Karen e Christine.

Jovens, em torno dos 30 anos, todas solteiras, todas com titulo de MSc em Ciencias Sociais e, claro, todas aventureiras.

Uma delas, a Karen é sapatona e fico rindo muito ao notar o claro assedio dela em cima de uma nativa que é nossa cozinheira --- uma indiana jovem, bonita.


Sou muito respeitado e, como as outras duas ja me conheciam da Africa, já sabem do meu humor ácido e da minha incontinência verbal. Então, mantém respeitosa distância, o que agrada muito ---- além de não querer misturar as coisas, ficarei aqui pouco tempo e não quero aborrecimentos.

Os costumes são muito parecidos com os Indianos que ja conheci bastante na Africa, principalmente em Moçambique. Falantes, rígidos nos costumes e ríspidos nas relações sociais.

Ainda nao vi muçulmanos nem cristãos. Por enquanto, todos que conheci são Budistas e/ou praticam rituais tribais.

Temos 2 interpretes do Nepalês para o Inglês e, como ninguém fala Português, já me retei umas 2 vezes e xinguei todo mundo e ninguém entendeu nada. Rsrs. Isto é muito bom para meu temperamento, às vezes indócil.



Amanha, domingo, nos prometeram carne de alce da montanha (“Montain Moose”) --- ôba, ja tô com saco cheio de galinha.

Estou usando um Land Rover Inglês, parecido com o Land Cruiser Japonês que usava na Africa --- 6 cilindros, aquecedor (na Africa, tem ar-condiconado), 4x4 e dois tanques de oleo diesel e 3 pneus de socorro.

Em nosso acampamento há provisão de oleo diesel e comida para 1 mês. Depois, ainda nao recebemos instruções como faremos.

Pretendo, se der tempo, entrar na China antes de ir embora. Não sei se será possivel, questões de vistos, etc.

Mas, vou tentar, com certeza.



Agora basta, bateria do notebook acabando. Vou termin
ar, levar o computador pra carregar e passar esta mensagem, lá em Jumla.
Telefone??? O que??? Telefone??? O que é isto???


A minha directora, na  Danish Association me disse que telefone via satelite é muito caro....

Um comentário:

  1. Espero que tenha conseguido através do seu trabalho mudar algo na realidade dessas mulheres e que o seus discípulos permaneçam lá ajudando as adolescentes e crianças que já nascem culpadas só por serem mulheres.

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