sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A religião dos Macúas

A religiosidade dos povos africanos tem sido objeto de muitos estudos, teses e pesquisas ao longo dos anos. Algumas claramente controversas, como um irresponsável português que escreveu “esses povos não têm religião nenhuma” (A. Langa em “Questões Cristãs à Religião Tradicional Africana (Mocambique)”, Ed. Franciscanas, Portugal, 1984).
NA realidade, o povo Macua, como de resto todos os povos africanos e de todo o mundo são naturalmente religiosos. A forma de ver, de sentir ou de venerar o Deus supremo pode ser diferente, mas o Deus é um só e presente em todas as manifestações culturais de qualquer agrupamento de pessoas.
O povo Macua acredita no mito do Monte Namuli, segundo o qual, Muluku (Deus) é a Forca-Vital que criou os Homens e os animais. Alguns agrupamentos macuas chamam Muluku de Mulungu, Bava, Nkulukumba, Nluku, Xikwembu... não importa. A crença comum entre o povo macua é que “Muluku Mpattuxá mwanene itthu sothene” (Deus é Criador e dono de todas as coisas).
Segundo o mito, após serem criados, os homens viveram em torno do Monte Namuli e nas terras próximas, divididos em famílias. Com o tempo e o alargamento destas famílias, foi necessário abandonar a montanha e espalhar-se pelo vale. Alguns transpuseram o Rio Lúrio (que nasce no Monte) e foram para mais longe ainda.
É evidente a semelhança com os escritos nas bíblias cristãs, nos livros sagrados muçulmanos etc.
Muluku okhala (Deus existe) é uma frase constante entre os povos macuas mais tradicionais e expressa a existência de Deus não só nas coisas boas, mas também nos infortúnios da vida, como uma esperança de dias melhores.
A crença nos antepassados, tão discutida e afirmada erroneamente como a “religião dos macuas”, trata-se não de uma religião, mas sim na crença de que os mortos se tornam personalidades superiores e estão ao lado de Mukuku, como colaboradores diretos.
Muluku nampaka mekawe (Deus onipotente) criou o homem e a mulher com capacidade de relacionarem-se entre si e com Ele (Muluku). Mas, os seres humanos só podem se comunicar com Muluku através dos cultos religiosos, com a mediação destes antepassados. Daí, o culto aos mortos.
Também semelhante à crença ocidental nos Santos, Anjos, dentre outros seres místicos.
A morte é temida entre o povo macua e a existência dela e de outras desgraças (calamidades, doenças) não são obra de Muluku, e só podem provir dos espíritos malignos, os Anakuru, que podem ser ate mesmo algum antepassado que procura por atenção..
Anakuru são espíritos dos mortos que não conseguiram entrar na categoria de “antepassados” por não estarem em sintonia com Muluku.
Allan Kardeck, em suas obras espíritas, também interpreta estes fenômenos à sua maneira.
Segundo a opinião de muitos Antropólogos a religiosidade dos povos Bantú é indiscutível. Os macuas são parte desta família alargada, que é também a origem de muitos outros povos do Sul da África. Apesar de, por muito tempo, negarem-se à existência de um culto a Deus nas religiões tradicionais africanas, pelo fato da presença dos “antepassados”, este culto a Deus existe e sempre existiu.
O macua nunca foi animista (Pinho Martins em “Religiões Tradicionais e Cristianismo em Diálogo”, Ed. São Pio X, Maputo, 2003).
São Tomaz de Aquino, considerado um dos grandes teóricos da Igreja Católica, afirmava que a razão é incapaz, por ela mesma, de penetrar nos mistérios de Deus.
A razão (conhecimento científico) ajuda-nos a entender os mistérios da Fé.
Da mesma forma, a fé religiosa sem o conhecimento científico, torna-se irresponsabilidade.

* Geraldo Bacelar Antón foi Development Worker da Associação Dinamarquesa para Cooperação Internacional e viveu entre o povo Emakwua.

2 comentários:

  1. Muluku è a primeira frase que o primeiro homem pronunciou.

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  2. Muluku è a primeira frase que o primeiro homem pronunciou.

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